[Jornal + | 15/05/2012] "Torre de Babel"

Há uma pergunta à qual tenho de responder vezes sem conta sempre que estou em Portugal: “então, já falas Dinamarquês?” Compreendo que faça sentido na cabeça das pessoas que após tanto tempo eu já seja capaz de falar esta língua nórdica caracterizada por sons que evocam imagens de vómito na minha cabeça. Mas a resposta tem sido repetidamente: não!

Tudo bem que já cá estou há 19 meses, no único país do mundo em que se fala dinamarquês, mas a verdade é que há uma boa justificação para o facto de não ser ainda um poeta nórdico. A LEGO, enquanto empresa, é um espaço completamente internacional. Tenho colegas vindos um pouco de todo o mundo: Guatemala, EUA, Canadá, África do Sul, Roménia, Alemanha, França, Espanha, Austrália (isto apenas para enumerar alguns!) o que faz com que a língua oficial seja o Inglês.

90% do meu dia-a-dia, portanto, é vivido num ambiente anglófono. Os restantes 10 dividem-se entre o Português do Facebook (que me vai mantendo em contacto com família e amigos) e um mero 1% de Dinamarquês com o qual tenho de levar volta e meia, seja no correio ou algum aviso na entrada do prédio.

Mas sendo eu um jovem inteligente e interessado em aprender, sei que quem me conhece esperaria mais de mim. É com desilusão e surpresa estampados no rosto que recebem a minha resposta curta e inesperada, obrigando-me depois a acrescentar alguns esclarecimentos para bem da minha própria imagem. Como sejam o facto de estar a trabalhar numa empresa internacional, ou a inutilidade que é aprender uma terceira língua (ou quarta se contar com o espanhol intermédio que acredito dominar como qualquer português que se preza) que não me abre portas em mais parte alguma do globo, ou ainda mesmo o facto de se tratar de uma língua extremamente difícil de aprender.

Qualquer residente trabalhador na Dinamarca tem a possibilidade de aprender Dinamarquês de forma gratuita facultada pelo estado, desde que o faça dentro dos três primeiros anos de residência. Eu comecei as minhas aulas alguns meses depois de ter chegado cá e durante uns sete meses talvez, fui relativamente assíduo. Completei o primeiro módulo (dos cinco que compõem o programa de aprendizagem), mas desde Novembro que estou a tirar umas férias.

Sei agora o equivalente a um ano de aprendizagem de Inglês nos meus tempos de escola: os números, os dias da semana, perguntas simples, falar um pouco sobre o tempo... Tendo terminado os meus estudos pouco antes de me mudar para cá, não tenho ainda particulares saudades de qualquer tipo de aula ou das actividades que delas advêm (TPC). Conto regressar, mas não para já... Até poderei vir a falar um dia esta língua dos Vikings, mas certamente jamais escreverei um livro em Dinamarquês!

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